2/27/2011

“Eu me sinto como um bicho” (diz a escrivã). O Manual da Inquisição (“Malleus Maleficarum”) continua martelando…

Fonte: wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Malleus_Maleficarum
LUIZ FLÁVIO GOMES*
Em entrevista ao jornal O Globo (23.02.11, p. 16) a ex-escrivã, que foi torturada pelos delegados de polícia (de São Paulo) já afastados das suas funções, disse: “Fui humilhada duas vezes: quando sofri a violência e, agora, com a divulgação das imagens na internet (cf. o vídeo). Eu me sinto como se fosse um bicho… Queriam me humilhar… Nunca vi isso, com o pior tipo de criminoso nunca vi um desrespeito à dignidade assim… O delegado disse que queria me ver sem roupa”.
Tal como no tempo da Inquisição, os torturadores do século XXI também se julgam purificadores. Tudo é feito em nome da purificação (da limpeza, da profilaxia). Lá na Inquisição o pano de fundo era a purificação da religião católica frente às bruxas e aos demônios. Os purificadores projetam de forma paranóide sua própria sombra (os complexos culturais inconscientes), nos hereges que são torturados e mortos (Carlos Amadeu Byington).

Ao torturar e matar, os Inquisidores diziam lutar contra o Demônio para salvar a alma de volta para Cristo. Hoje a tortura é praticada como instrumento de obtenção de prova, como expressão da discriminação étnica, social e econômica etc.
Por força de uma bula papal (Bula do Papa Inocêncio III), os cristãos Sprenger e Kramer foram nomeados inquisidores oficiais e se especializaram no tema tortura. Escreveram um famoso Manual (“Maleus Maleficarum” ou O Martelo das Feiticeiras, 21 ed., Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 2010), até hoje seguido (com certa fidelidade), sobretudo contra as mulheres, os pobres, os miseráveis, os vulneráveis (que são os torturáveis, os prisionáveis e os mortáveis).
A razão central de se torturar a mulher (as bruxas, dos séculos XV, XVI e XVII) é que ela é mais carnal que o homem (cf.Maleus, Parta I, Questão 6). Havia ódio mortal contra as mulheres. Por quê? Por força da atração mórbida por ela em razão da repressão cultural da sexualidade. A tortura, recomendada no Manual dos inquisidores católicos, incluía procedimentos tarados, sexualizados. Freud, alguns séculos depois, viria explicar tudo isso.
Como deveriam ser torturadas as mulheres no século XV? Dizia o Manual: devem ser despidas e seus cabelos e pêlos raspados à procura de objetos enfeitiçados escondidos em suas partes íntimas (que não devem ser mencionadas) (Malleus, Parte III, Cap. 15). Como diz Carlos Amadeu Byington (no prefácio do livro citado), “… o processo recomendado pelo Malleus é um delírio francamente paranóide orientado para se obter confissões, e não para se verificar a culpabilidade”. Aberrações sexuais com hipocrisia puritana (as partes íntimas não podem ser mencionadas).
Meus amigos: a psicose paranóide dos Inquisidores do século XV era terrível. Ufa! Ainda bem que estamos no século XXI! O homem já foi à lua, inventaram a internet, Galileu Galilei foi regenerado pela Igreja…  Mas o Manual de Sprenger e Kramer continua sendo seguido? Isso é preocupante, porque quanto mais essa doença mental progride, mais gente apoia seus métodos. Os inimigos antigamente eram o Diabo e as bruxas. Ocorre em cada época o poder punitivo aloprado encontra seus inimigos…
Esse negócio de policiais purificadores procurarem objetos enfeitiçados ($$$) nas partes íntimas das mulheres, sem seguir o Estado de Direito vigente (CPP, art. 249), não está te dando a sensação de século XV?
Meus amigos: gostaria de tomar a liberdade de te recomendar a leitura do Malleus Maleficarum. É imperdível. Não morra antes de ler essa obra histórica. Nossa cabeça passa a ser outra… experimente!"
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